quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Mania de paulistano


A Sidnei Akiyoshi

São Paulo tem de tudo: cinemas, teatros, museus, galerias, restaurantes... Programas para todas as tribos, produtos para todos os gostos e, claro, problemas de todos os tipos.
Mesmo com tanta variedade à disposição, o paulistano em geral é alguém que divide a rotina entre o trânsito, o trabalho e a casa, sem se permitir conhecer as atrações procuradas pelos turistas,  na rua, no ponto de ônibus, no metrô.
O paulistano comum mal encontra descanso, mas gosta de saber que a qualquer hora poderia ir a algum desses lugares. Gosta de saber que basta um telefonema para pedir uma pizza, um yakissoba, um sushi...  Não que ele peça sempre. Apenas é bom saber que poderia pedir. Apesar do cansaço, falta coragem para sair de uma cidade onde a gente parece ter tudo ao alcance da mão.
Por outro lado, aqui há tanta gente correndo pra lá e pra cá que mal se tem tempo de conversar. Poucos ousariam, por exemplo, preparar crepes para o café da manhã em plena segunda-feira. Pouquíssimos ainda escrevem cartas, cuidadosamente ilustradas, mantendo “amigos de papel”. Nomes são detalhes relegados. A vida corre tanto que às vezes a gente nem repara a quem dá tchau.
Hoje, meu melhor amigo se mudou para o Rio Grande do Sul. Embora não nos encontrássemos com tanta frequência, sinto que ele fazia parte desse tipo de “privilégio paulistano”. Era agradável saber que ele também estava ali, sempre à mão.
Meu amigo é um paulistano hábil. Capaz, inclusive, de ser boa companhia em silêncio. Com ele não sinto aquele tormento da pressa urbana, nem aquela angústia que arrasta, como eternos, os segundos no elevador.
Sei que as estatísticas governamentais jamais darão conta deste evento compreensível e assombroso: hoje uma pessoa saiu da cidade, mas a impressão é de que a multidão paulistana dobrou de tamanho...