José da Silva desde criança aprendeu com os pais que estudar seria sua
única chance de ascensão social. Por isso, dedicou sua juventude aos estudos,
em sacrifícios e privações, até fazer parte da ínfima parcela de 5% da
população mundial com diploma universitário.
Inteligente, sensível e ciente dos valores envolvidos em tal escolha,
ingressou em uma carreira da área de Ciências Humanas, com ênfase em Educação –
onde os salários costumam ser em média 61% menores do que os de outros
campos de alta responsabilidade.
Seu cotidiano era preenchido por 44 horas semanais registradas em
carteira, embora pelo menos outras 18 horas fossem desperdiçadas em
engarrafamentos entre sua casa e o trabalho.
Anos de esforço não renderam sequer as condições necessárias para um
modesto financiamento imobiliário, de modo que continuava a se ver obrigado a
consumir 39% de sua renda mensal no aluguel de um cubículo barulhento numa área
degradada da cidade.
Um dia, um colega de trabalho que vivia um tormento similar quebrou a
cabeça em cálculos e garantiu ter identificado 53 combinações que, segundo ele,
tinham maior probabilidade de serem sorteadas na loteria. Porém, mesmo juntando
trocos e moedas, os dois tinham dinheiro somente para apostar em seis números:
05, 18, 39, 44, 53 e 61.
Era dia 13, mas, na fila da lotérica, José não podia se dar ao luxo de
superstições. Estudado, trabalhador e racional, concluiu que precisava tentar.
Seria a última trincheira antes de partir para o crime. A lógica não lhe dava
outra opção.